Referências

Referências Ideológicas e Práticas:

CPC – O Centro Popular de Cultura, grupo fundado no Rio de Janeiro em 1961 e fechado pela ditadura em 1964, surge afim de construir uma identidade cultural nacional, proveniente da base da população (popular), que não fosse apenas Carnaval e Futebol, mas sim valorizando a poesia popular, o artesanato, a música, etc. em seu manifesto inicial define em suas diretrizes três tipos de pessoa:

 - Os Conformados: que aceitavam as coisas como elas são (fatalistas) e tentavam se dar bem na medida do possível. Ou seja, com um pensamento mais individualista e cômodo.

 - Os Inconformados: que tinham uma visão mais ampla das coisas e não aceitavam as coisas ruins. Ou seja, tinham uma compreensão coletiva clara, mas ainda uma posição cômoda.

 - Os Revolucionários: que tinham uma visão mais ampla, mas além de não aceitar as coisas ruins faziam o que podiam para melhorar o quadro coletivo. Ou seja, compreendiam que o coletivo é a somatória das ações individuais por isso botavam a mão na massa.

Os revolucionários eram os que estavam aptos para integrar o CPC. Este espírito e perfil também deve ser o dos integrantes do Buzum Teatrale. No Buzum o espírito de SOMA é muito maior do que o de LUTA. Ou seja, trazer as pessoas com gentileza e simpatia para a atmosfera humana da criação, para uma sociedade mais inteligente, mais racional, mais crítica e mais justa, conseqüentemente. Aqui a cultura, a arte e o conhecimento não é a cereja do bolo que se faltar dinheiro não existirá. Aqui é a farinha, o fermento e o recheio delicioso que fará parte da substância humana da nossa sociedade.

TUOV – O grupo Teatro União e Olho Vivo teve um grande período de experiência de teatro feito nas periferias de São Paulo, sobretudo nos anos 70. No livro Em Busca de um Teatro Popular , que relata muitas dessas experiências, o grupo justificas seus feitos com vários levantamentos. Estes nos ajudam a compreender nosso quadro nacional de cultura e motiva o projeto Buzum Teatrale. 
Dados:
- Em 1976 apenas 1,2% da população de São Paulo e Rio de Janeiro iam ao teatro. Hoje em São Paulo capital já temos dados de aprox. 40% da população costuma ir ao teatro periodicamente. Um dos fatores relacionado no livro ainda é muito importante que é a distância dos teatros. Chegar numa sexta, ou mesmo sábado, do trabalho e se deslocar até as centralidades, onde o teatro está, é custoso e cansativo, fora que muitas vezes não tem transporte para voltar dependendo do horário.

- dados de 1977: 40% da nossa população era subnutrida. 40% dos domicílios NÃO tinham instalações sanitárias (privada). Por outro lado 84% das zonas periféricas tinham aparelhos de TV, fora as regiões mais centrais de maior poder aquisitivo. Um quadro que já melhorou muito hoje, mas ainda sofremos com suas conseqüências. Ainda nesse levantamento: apenas 30mim de programação era cultural dentre 48 horas de programação na TV.

- De 70 a 74 o Brasil arrecadou nas Loterias C$8.600.000,00 que daria para cobrir com o déficit da balança de pagamento do país no ano de 74.

- O livro lista 5 tipos de censura na época: 1- a oficial cortando partes o proibindo totalmente além de estipular faixas etárias. 2- a burocracia do processo de aprovação era propositalmente grande e lenta, muitas vezes fazendo a peça ser abandonada. 3- Patrocínio, com medo da censura oficial os produtores só financiavam peças que não corriam o risco da censura. 4- Auto censura (a mais triste), motivada pela falta de incentivo. Os autores passaram a escrever só o que passava na censura. 5- Local, censura feita por pessoas que achavam que tinham este poder. Diretores de escola, delegados de cidadezinhas, diretores de clubes, etc. proibiam apresentações a próprio gosto.


Cesar Vieira: Fomos fazer uma peça na periferia de Guarúlhos, a segunda maior cidade do Estado de São Paulo, para 400 pessoas. Ao final, no debate (conversa) perguntamos quem já tinha visto ou ido ao teatro. 4 pessoas disseram que sim. Destas uma delas foi ver uma vez na paulista, por que a empresa que ela trabalha levou os funcionários em um ônibus fretado. As outras 3 disseram que só tinham visto uma vez a 20 anos quando o TUOV tinha ido lá. Ou seja, pessoas que nunca viram teatro, e provavelmente nunca mais virão.

Utopia – O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano define utopia: 

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminho, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. 

Hoje com a velocidade dos acontecimentos e a possibilidade de mibolidade social só acreditamos e convivemos com os fatos - o dinheiro. No entanto, algo fundamental para a evolução da humanidade sempre foi a utopia, ou seja, a busca de um ideal que por mais que não chegue faz com que muitas coisas sejam construídas no percurso. Nossa intensão do Buzum Teatrale é mudar o mundo, mas não se trata do mundo literal. Se lembrarmos da famosa teoria de Descartes “penso, logo existo”, ou seja, sei que sou alguém por que penso sobre isso, sei o que é uma arvore por conheço e uma arvore não sabe que eu existo, etc. podemos mudar o mundo de uma pessoa, ou seja, a concepção que ela tem do mundo.


Referências Bibliográficas:


Garcia, Millandre : Do Teatro Militante à Música Engajada: a Experiência do Cpc da Une

Vieira, Cesar : Em Busca de um Teatro Popular
 - Boal, Augusto: Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

- Freire, Paulo: Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 


Spolin, Viola: Improvisação Para o Teatro, Tradução de Ingrid Dormien Koudela et Eduardo José de Almeida Amos.

- Freire, Paulo: Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 

- Ribeiro, Renato Janine e Cortella, Mario Sergio: Política - para não ser idiota - Papirus 7 Mares



- JacquesPaola Berenstein: APOLOGIA DA DERIVA - ESCRITOS SITUACIONISTAS SOBRE A CIDADE

Stanislavski, Constantin: A PREPARAÇAO DO ATOR


COSTA, I.C. Sinta o drama. Petrópolis, Editora Vozes, 1998


COSTA, I.C. A hora do teatro épico no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996




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